[excerto do portfólio do fotógrafo]
Para o fotógrafo e urbanista Reginaldo Cardoso, uma cidade, qualquer que seja ela, mescla hábitos, percepções, histórias. Dito assim, a cidade carrega em seu substrato a ficção. Ficção no sentido de que é uma narrativa construída pelo ser humano, como dado sociocultural importante, discriminador, segmentador. Dessa maneira, a ficção, antes de ser uma categoria pertencente apenas e exclusivamente ao universo das letras, pode ser também a das representações do mundo, dos deslocamentos que fazemos nele, nas “construções” ‒ construções tanto na acepção de que damos um sentido qualquer à realidade, quanto na de que construímos uma miríade de coisas ‒ apresentadas por nós, atores sociais. De um lado, temos construções carregadas de subjetividades que tentamos a duras penas compartilhar com outros, e, de outro, construções “objetivas” que são compartilhadas por convenções. Como essas posições podem se articular, como efetivamente se articulam, como podem ser concretizadas, todas estas questões nos remetem diretamente ao universo do urbano, das socialidades, da dinâmica entre o coletivo e o individual.
A proposta das inquietudes deste artista é chamar a atenção do observador para a ambiguidade e para as alterações de sentido da fotografia, essa insubstancial substância, enquanto abordagem e registro do inusitado ambiente urbano contemporâneo.